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sábado, setembro 26, 2015

O Inicio - A Conquista de Ceuta-1415

A Conquista de Ceuta - 22 de Agosto de 1415


A Conquista de Ceuta, cidade islâmica no Norte de África, por tropas portuguesas sob o comando do Rei Dom João I de Portugal, deu-se a 22 de Agosto de 1415. As causas e origens da conquista de Ceuta não são hoje suficientemente claras, uma das razões, a ‘Causa Bélica’, teria sido a oportunidade dos infantes (Dom Duarte, Dom Pedro e Dom Henrique) serem armados cavaleiros por um feito de guerra. Outra, a ‘Causa Religiosa’, viu na figura do infante Dom Henrique um símbolo do espírito de cruzada, defendendo ter havido na génese da expansão um zelo religioso. Não podemos esquecer que o Infante Dom Henrique era o Grã-mestre da Ordem de Cristo que tinha sido a Ordem dos Templários em Portugal, (é curioso que só em Portugal passaram ter o nome original Ordem de Jesus Cristo, quando iniciaram a ordem em Jerusalém pediram um espaço para poderem instalarem-se, o Rei deu-lhes um espaço que ficava o templo de Salomão logo de inicio o povo começou a chamar-lhes de Templários), portanto na mente do Infante e da Ordem estava o espirito de Cruzada por outro havia a ‘Expansão do Território Português’, porque desde a tomada de Sevilha o Rei de Castela ficou com os direitos de conquista de toda a antiga Baetica (província romana), aos mouros e o reino do Algarve. Dom Afonso III apresou-se a conquistar o Reino do Algarve, com grandes protestos do rei de Castela, “que aquelas terras no reino do Algarve lhe pertenciam” mas com a argumentação da 'Provincia Romana' Dom Afonso III respondeu que precisamente o Reino do Algarve encontrava-se precisamente no Sul da Provincia da Lusitânia. Sabemos que os espanhóis expulsaram os mouros (o reino de Granada), Portugal 'ia a caminho da India' e já tinha praças e fortalezas no norte de Africa. Outra, a ‘Causa Política’, talvez a ameaça castelhana constante sobre a cidade, que realçava o desejo da antecipação a Castela na expansão para o norte de África. Estes motivos não são incompatíveis com a ‘Causa Económica’, Ceuta era uma cidade rica e teriam sido levados pela burguesia comercial, que queria canalizar para Lisboa o tráfego do Mediterrâneo ocidental feito por aquela cidade. Para se informar de todos os pormenores da cidade, Dom João I enviou à Sicília dois embaixadores com o pretexto de pedirem a mão da rainha para o infante Dom Pedro, estes na passagem colheram todas as informações sobre Ceuta.


Estas são consideradas as principais razões da conquista de Ceuta:

Geoeconómicas: A posição geográfica de Ceuta permitiria controlar a entrada e saída dos navios vindos do Atlântico para o Mediterrâneo e vice-versa através do estreito de Gibraltar, de modo que a costa do Algarve parasse de ser atacada por piratas oriundos ou baseados na cidade muçulmana.

Religiosas: O espírito de cruzada, havia um desejo de expansão da fé cristã através do incremento de territórios onde o cristianismo poderia ser implantado.

Sociais: As classes mais abastadas tinham vários interesses nesta conquista. A nobreza procurava, novas terras, honras e rendas, o clero desejava expandir a fé cristã, e a burguesia estava à procura de novos produtos e mercados.

Económicas: Portugal sofria com a falta de diversos produtos como trigo, ouro, prata, e especiarias. A conquista de Ceuta significaria para o reino português o controle sobre uma cidade em que afluíam os produtos orientais vindos da Índia pelas rotas dos caravaneiros que traziam ouro, especiarias, etc. Ressalte-se ainda que a cidade era uma zona fértil, apropriada para a produção de cereais.

Políticas: O reino português procurava aumentar sua importância no quadro das monarquias ibéricas através do estabelecimento de Ceuta como o ponto mais a sul da reconquista cristã a ser feita por Portugal agora no norte da África na terra dos próprios islâmicos.

Um exército de cerca de 19.000 a 20.000 cavaleiros e soldados portugueses, ingleses, galegos e biscainhos havia largado de Lisboa a 25 de Julho de 1415, embarcado em 212 navios de transporte e vasos de guerra (59 galés, 33 naus e 120 embarcações pequenas). Na expedição seguia a fina flor da aristocracia portuguesa do século XV, incluindo os príncipes:



Rei Dom João I de Portugal
Rei de Portugal

Dom Duarte
O Herdeiro

Dom Pedro
Duque de Coimbra

Dom Henrique
Duque de Viseu

Dom Nuno Álvares Pereira.
Condestável do Reino e Comandante de todas as forças armadas.

Após uma escala em Lagos, fundearam diante de Ceuta a 21 de Agosto, tendo efectuado o desembarque sem encontrar resistência por parte dos Mouros. A guarnição da cidade de Ceuta correu a fechar as portas da cidade, mas as tropas portuguesas foram rápidas a impedir o estabelecimento de defesas adequadas. Na manhã de 22 de Agosto, Ceuta estava em mãos portuguesas. Segundo Azurara, nessa altura, foi pedido a Dom João Vasques de Almada que hasteasse a bandeira de Ceuta, que é idêntica à bandeira de Lisboa mas na qual foi acrescentado o brasão de armas do Reino de Portugal ao centro, símbolo que perdura até hoje. Depois a mesquita foi consagrada e, na primeira missa lá realizada, os três príncipes da ‘Ínclita geração’ presentes foram feitos cavaleiros pelo seu pai. Ceuta seria a primeira possessão portuguesa em África, estratégica para a exploração Atlântica que começava a ser efectuada.




A conquista foi recordada como:

" (...) Já passavam de sete horas e meia depois do meio dia, quando a cidade foi de todo livre dos mouros. (...) As outras Companhias [de soldados portugueses], não tinham maior cuidado doutra coisa que de apanharem o esbulho. (...) Muitos que se acercaram primeiramente naquelas lojas dos mercadores que estavam na rua direita, assim como entraram pelas portas sem nenhuma temperança nem resguardo, davam com suas facas nos sacos das especiarias, e esfarrapavam-nos todos, de forma que tudo lançava pelo chão. E bem era para haver dor do estrago, que ali foi feito naquele dia. Que as especiarias eram muitas de grosso valor. E as ruas não menos jaziam cheias delas (...) as quais depois que foram calcadas pelos pés da multidão das gentes que por cima delas passavam, e de si com o fervor do sol que era grande, davam depois de si muy grande odor. (...)" (Crónica da Tomada de Ceuta, Gomes Eanes de Zurara, 1450.)




Deixando ficar, o Conde de Viana, Dom Pedro de Meneses, o Rei, os Infantes e o resto da frota regressaram a Lisboa em Setembro, tendo permanecido durante treze dias em Ceuta. Os marroquinos não se conformaram e atacaram a cidade duas vezes, em 1418 e em 1419, sem sucesso. Manter a cidade constituía-se em um problema logístico, era necessário enviar suprimentos, armas e munições, a maior parte dos soldados era recrutada à força, recorrendo-se a condenados e criminosos a quem o rei comutava a pena desde que fossem para Ceuta e ainda recompensar generosamente os nobres que ocupavam postos de chefia. Julgaram consegui-lo, quando do desastre português de Tânger, pedindo como resgate do infante de Dom Fernando a cidade de Ceuta. Mas Dom Fernando faleceu no cativeiro e a cidade continuou portuguesa (1443). Ceuta teve que se aguentar sozinha, durante 43 anos, até que a posição da cidade ser consolidada com a tomada de Alcácer Ceguer (1458), Arzila e Tânger (1471). A cidade foi reconhecida como possessão portuguesa pelo Tratado de Alcáçovas (1479) e pelo Tratado de Tordesilhas (1494). Quando da Dinastia Filipina, Ceuta manteve a administração portuguesa do Reino de Portugal, assim como Tânger e Mazagão. Todavia, quando da Restauração Portuguesa, não aclamou o Duque de Bragança, como rei de Portugal, mantendo-se espanhola. A situação foi oficializada em 1668 com a assinatura do Tratado de Lisboa entre os dois países, e que pôs fim à guerra da Restauração.


As expectativas relacionadas aos benefícios da conquista de Ceuta não se confirmaram a longo prazo. Sob a óptica económica, pode-se afirmar que o domínio português sobre a cidade se revelou um completo fracasso. As rotas comerciais que chegavam ou passavam por Ceuta foram desviadas para outras localidades. Além disso, o permanente estado de guerra comprometia o cultivo dos campos e a produção de cereais. Os muçulmanos chegaram a sequestrar o Infante Dom Fernando (considerado santo a partir deste episódio) e outras pessoas, para exigir Ceuta de volta, mas Portugal não cedeu e os prisioneiros acabaram por ser torturados e morrer. A situação agravou-se em função das elevadas despesas militares necessárias à manutenção da praça africana. Os membros da corte chegaram a cogitar o abandono da cidade. O Infante Dom Pedro, em carta ao seu irmão, afirmava mais tarde:


"Ceuta é um grande sorvedouro de gente e dinheiro".

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